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TV Dominical

A comissão cultural e a grande comissão

 
 
Altair  Germano
O texto publicado abaixo já foi foi postado em outras ocasiões, mas acho pertinente transcrevê-lo mais uma vez, visto que a Lição BíbliCa desta semana aborda o tema "Missão Integral da
Igreja",onde envolve a proclamação do Evangelho e a diaconia.
 
  MISSÕES URBANAS
"E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura." (Mc 16.15)
"[...] mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra." (At 1.8)
O principal objetivo do batismo com o Espírito Santo foi o de capacitar a Igreja para pregar o Evangelho de poder, com poder. Na Bíblia, temos a mensagem do Evangelho, que deve ser pregada em todos os lugares e a toda criatura. Mas, como pregar o Evangelho? Quais os métodos e estratégias? Um olhar sobre os evangelhos e sobre o livro de Atos, nos revela que várias foram as maneiras pelas quais o Evangelho foi anunciado, pregado, proclamado e testemunhado.
No que se refere a Assembleia de Deus no Brasil enquanto denominação pentecostal, dois métodos de evangelização foram bem marcantes ao longo dos seus 100 anos de existência: o evangelismo de abordagem pessoal e as cruzadas ou concentrações evangelísticas.
 
No caso do evangelismo pessoal, ele sempre foi realizado em praças, ruas, presídios, hospitais, etc. Já as cruzadas ou concentrações, foram e são marcadas em locais estratégicos, que comportam um número considerável de pessoas.
Não temos dúvidas de que estes métodos colaboraram, e ainda colaboram para o crescimento da igreja nos dias atuais. A questão é a seguinte: Estes métodos estão conseguindo manter os índices de crescimento e dando os resultados de outrora? Me parece que não.
É visível e notória a diminuição da presença de crentes no evangelismo pessoal da igreja (em alguns locais já não existe evangelismo). Por muitos anos, a tarde do domingo foi "sacralizada" como o momento para o evangelismo pessoal da comunidade cristã local. Alcancei o tempo em que crentes eram ameaçados com a possibilidade de "castigos divinos", "punições do alto" e outras mazelas, caso não evangelizassem no domingo à tarde. Alguns foram severamente estigmatizados, mesmo quando a falta no evangelismo era justificável. De uma forma tímida, algumas igrejas, percebendo os baixos resultados do evangelismo "tradicional", resolveram mudar (ou dar outras alternativas) o dia do evangelismo. Acontece que a questão do evangelismo pessoal não se limita ao dia ou ao horário, mas, e principalmente, ao método.
 
O tema "missões urbanas" está em voga nos centros acadêmicos teológicos, em palestras e na literatura evangélica. Qual a razão? A nova realidade brasileira. Aquele "saudoso" tempo de pessoas nas calçadas e ruas, sem pressa, disponíveis para ouvir, já é quase parte apenas de nossa memória e lembranças. As grandes massas estão concentradas nas cidades, e vivenciando novas realidades. Condomínios fechados, prédios de luxo inacessíveis, pressa, indisponibilidade para ouvir, estresse, trabalho exaustivo e outras questões, mudaram a rotina e o comportamento das pessoas. As igrejas que mais crescem na atualidade são aquelas que percebendo a realidade e os desafios dos novos tempos, procuram adequar seus métodos de evangelismo, sem abrir mãos dos princípios bíblicos. Hoje, tem dado muito certo a evangelização através de reuniões e estudos bíblicos nos lares. Alguns líderes olham com desconfiança esta prática, associando-a equivocadamente ao G12 e às igrejas em células. A igreja primitiva usou o método de reuniões domésticas com sucesso (At 2.46; 20.20; 1 Co 16.19 etc.).
Deus tem uma direção para cada época, basta que oremos e analisemos a situação, dependendo em tudo da direção e orientação do Espírito. Alguns parecem estar tão ocupados, que em vez da oração, análise e discussão de ideias, preferem comprar livros com "fórmulas de crescimento", tipo receita pronta, para aplicar e "funcionar".
Em relação às cruzadas ou concentrações evangelísticas, que em boa parte dos casos são concentrações apenas de crentes, onde a pipoca, o refrigerante, o cachorro quente e o espetinho chamam mais a atenção do que a pregação da Palavra, os baixos resultados são alarmantes. Neste caso, penso que em alguns lugares falta um planejamento estratégico, do tipo que víamos nas cruzadas do saudoso pastor e missionário Bernhard Johnson. Outro grande problema é a falta de acompanhamento e discipulado dos novos convertidos. Observem a discrepância do número daqueles que atendem ao apelo nas cruzadas, em relação ao número daqueles descem às águas batismais.
É tempo de repensar os nossos métodos de evangelização, sem necessariamente descartar os "tradicionais".
 
DIACONIA (SERVIÇO)
"Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta." (Tg 2.14-17)
Sempre que o tema "Ajuda aos Necessitados" é abordado, observamos algumas reações e atentamos para alguns fatos no meio assembleiano. Observemos alguns deles:
 
1. Um Grande número de alunos, professores, dirigentes e superintendentes de ED questionam as poucas ações concretas nesta área (chamada de "social");
2. Líderes de igrejas, aproveitando o tema da lição bíblica, resolvem fazer campanhas de doações e socorro aos necessitados, mas logo após o estudo da lição abandonam a prática;
3. Se percebe que muitas igrejas nunca vão além da simples distribuição aleatória e desorganizada de cestas básicas, sem nenhum levantamento das reais necessidades dos beneficiários;
4. Uma ênfase num certo socialismo ou comunismo cristão, fruto de uma interpretação equivocada do tema "Comunidade dos Bens". Interessante é que os que defendem teoricamente esta ideia não a colocam em prática, partilhando todos os seus bens com os necessitados;
5. Irmãos, individualmente ou em "grupos", diante do descaso da "instituição" ou da "comunidade cristã" com a ajuda aos necessitados, acabam se achando no direito de administrarem os próprios dízimos e ofertas, não levando em consideração as recomendações (determinações) da liderança;
6. Igrejas se mobilizam para prestar socorro às vítimas de grandes catástrofes naturais em outras regiões, mas no seu cotidiano esquecem de socorrer os seus necessitados (Gl 6.10), e os que vivem em situação de miséria na localidade onde está estabelecida;
7. Para dizer que socorrem os necessitados, algumas igrejas afirmam manter hospitais, escolas, creches, orfanatos, abrigos de idosos funcionando, casas de recuperação etc. Acontece que em alguns casos, as condições de atendimento e assistência são muito precárias. As pessoas lá atendidas sofrem de um grande descaso e desumanização;
8. É afirmado ainda, que a igreja faz o trabalho social muito bem, mas sofre por não divulgá-lo. Entendo que pelo menos os membros deveriam tomar conhecimento das ações em favor dos necessitados;
9. A calamidade dos necessitados se acentuam diante da ostentação e da vida regalada de algumas lideranças, através da aquisição e exibição dos símbolos capitalistas de "poder" e "status ministerial". Na versão e lógica "espirituosa" deste capitalismo selvagem (Teologia da Prosperidade), quanto mais o pastor ou líder ficar rico (ou pelo menos parecer), mas demonstrará o quanto o seu ministério é abençoado por Deus. Obviamente esta lógica acaba trazendo problemas para alguns líderes de igrejas na atualidade. Por exemplo, podemos citar a necessidade de um pastor precisar de "seguranças". Tal necessidade é resultado direto da ostentação já citada. Citamos ainda o receio que alguns possuem de terem seus filhos ou parentes sequestrados. Não consigo imaginar Jesus, Pedro, Paulo, João, Tomás de Aquino, Agostinho, Lutero, Calvino e outros ícones da fé precisando de seguranças particulares. Alguma (ou muita) coisa está errada. Viver dignamente do evangelho foi trocado por viver explendorosamente, ou regaladamente do evangelho;
10. É interessante também afirmar, que diante do exposto no ponto acima, dentro de um mesmo ministério, há líderes que abusam das regalias enquanto outros passam extrema necessidade. A ideia, volto a deixar claro, não é a de um socialismo ou comunismo ministerial cristão, falo sim (pois há uma série de fatores e variantes aqui envolvidos) da necessidade de diminuir a distância "econômica", promovendo um viver digno para todos.
Se a sua igreja mantém instituições sociais, faça visitas periódicas ao local, e verifique se as condições oferecidas são humanizadoras. Suas doações, ofertas e dízimos devem ser administrados com responsabilidade.
***
 
Quando o assunto é a Grande Comissão – A Igreja proclama o Evangelho no mundo, algumas questões relacionadas com a nossa (Assembleia de Deus brasileira) prática missionária precisam ser levantadas.
Durante a Convenção Geral de 1930, realizada na cidade de Natal-RN, os obreiros nacionais apresentaram a proposta de que os missionários suecos deveriam lhes passar a direção e a responsabilidade do trabalho no Norte e no Nordeste do Brasil. A posição dos suecos, contada pelo pastor Lewi Petrus foi a seguinte:
"Antes de este assunto ser tratado, os missionários já haviam falado sobre ele e tinham uma proposta preparada para apresentar à Conferência [naquele tempo era comum tanto os obreiros nacionais quanto os suecos se referirem às convenções como conferências]. Haviam chegado à conclusão de que o trabalho nos Estados do Amazonas, Pará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, onde já haviam cerca de 1000 membros e 160 igrejas, deveria ser entregue inteiramente aos obreiros nacionais. Também foi apresentado pelos missionários que todos os templos e locais de reuniões que pertenciam à Missão deveriam ser entregues, sem nenhum custo, às respectivas igrejas locais brasileiras. Se isto não fora feito, teria de fazer-se e estar terminado até o dia 1º de julho de 1931." (História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, CPAD, 2004, p. 29)
Algumas perguntas cabem aqui, com o fim de reflexão e discussão (e quem sabe, respostas):
Após 19 anos de trabalho no Brasil, os missionários suecos passaram a direção da obra do Norte e Nordeste aos obreiros nacionais (inclusive o patrimônio), para posteriormente entregarem a direção de todas as regiões do país. Nos dias atuais, por quais razões algumas igrejas locais insistem em não dar autonomia a alguns trabalhos missionários dentro e fora do Brasil (transculturais e transnacionais), quando em boa parte dos casos, esses trabalhos possuem uma maior estrutura e tempo de atividade em relação aos fatos aqui apresentados?
a) Falta de confiança na capacidade de liderança dos obreiros estrangeiros (neste caso os nativos ou nacionais da missão)?
b) Resistência em abrir mão do patrimônio construído mediante investimentos financeiros realizados?
c) Vaidade e vanglória em ter o trabalho missionário agregado à igreja local?
d) Dificuldade em abrir mão do poder e do controle sobre o trabalho missionário?
e) Manutenção dos privilégios de alguns missionários?
f) Falta de visão bíblica da obra missionária?
Até que ponto se justifica o "controle" de uma obra missionária que tem condições de caminhar com sua liderança nativa ou nacional, e que já possui autonomia financeira para se manter, inclusive sendo já capaz de promover treinamento e de enviar os seus próprios missionários?
Será que as desculpas que alguns dão, de que os obreiros locais (nativos ou nacionais) das obras missionárias abertas não estão ainda preparados para assumir o trabalho, não é fruto do nosso descaso em lhes oferecer treinamento para isso, criando dessa forma uma constante e eterna dependência? Estamos fazendo discípulos ou dependentes?
Não se poderia criar um plano de ação para a passagem progressiva de alguns trabalhos aos obreiros nativos ou nacionais?
O dinheiro que a igreja local envia para o sustento de obras missionárias já bem estruturadas, não poderia ser canalizado para novos trabalhos entre povos e culturas mais carentes e necessitadas do Evangelho integral?
Por que não seguimos o exemplo dos suecos?
Entendo que esta lição nos oferece uma boa oportunidade para discutir tais questões na EBD. Só não sei se haverá vontade, disposição e coragem para isto
Não vai adiantar muita coisa (ou nada) estudarmos mais uma vez esses temas sem refletirmos sobre a nossa atual condição (cada um deve assumir a sua responsabilidade), sem discussão, sem propostas de mudanças, sem planos e ações concretas.
 
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